Publicado por: Heloísa Dall'Antonia | 03/12/2011

Esqueletos e surpresas em armários

O grande problema de se aventurar numa pós-graduação é o momento da preparação do trabalho de conclusão de curso. Cada minuto – na cabecinha perturbada desta aluna que aqui escreve – podia estar sendo ocupado com uma pesquisa relevante sobre o tema (que mudou no início do mês passado, aliás). Mas isso é um pedido de desculpas pela ausência e não tem nada a ver com a resenha de ‘100 Armários’, de N.D. Wilson, publicado aqui pela Rocco.

Ou talvez até tenha. De certa forma, ao menos.

Na trama, Henry York é um garoto de 12 anos que vai morar com os tios, Frank e Dotty, numa cidadezinha de nome Henry, no Kansas. Acostumado apenas ao cotidiano do colégio interno em que estudava – e a uma vida superprotegida -, o menino passa boa parte do tempo se sentindo mal por não estar preocupado com a situação de seus pais, que foram sequestrados por guerrilheiros enquanto trabalhavam em um país na América Latina. Ao mesmo tempo, o protagonista sabe que se existe a chance de um ‘momento da virada’ em sua vida, ele a está vivenciando.

Docemente acolhido pela família, também composta das primas Penny, Anastácia e Henrietta, o garoto é alojado num quarto no sótão. Já na primeira noite, Henry percebe que há algo estranho na casa, quando durante a noite vê um homem que não conhece saindo do banheiro e entrando no quarto de seu avô, trancado desde a morte dele, dois anos antes. Mas a presença do estranho não é nada comparada a descoberta de que uma das paredes de seu quarto esconde uma série de pequenas portinhas de armários. Cada uma delas, ele e Henrietta, em segredo, descobrirão depois, leva a um lugar diferente, alguns normais, outros mágicos, e como poderia se esperar, alguns extremamente sombrios.

Mesmo sem muita certeza do que deve fazer, Henry pressente o perigo quando sua curiosa prima resolve abrir uma determinada portinha, que esconde não apenas uma criatura maligna como também a resposta a várias dúvidas que o menino nem sabia ter. Assim, ‘100 Armários’ apresenta não apenas uma viagem fantástica por mundos desconhecidos, mas também uma jornada pelo autodescobrimento (e todas as dores e delícias de se ser quem é).

Bem escrito (Wilson é professor de literatura) e denso,  o livro é o primeiro de uma trilogia que deve ser adaptada para o cinema –óóóóbvio – no ano que vem. Vale muito a leitura.

Publicado por: Thaís Fonseca | 16/07/2011

Bússola de Livros começa nova fase, com nova cara

Novo endereço deste blog: http://bussoladelivros.com/

Em 2009, três amigos resolveram colocar em prática uma ideia surgida na mesa de um almoço. O resultado foi este blog, criado para resenhas de livros infanto-juvenis recém-lançados ou os clássicos com cara de infância que tínhamos vontade de ler. A experiência foi tão prazerosa que quisemos ampliar o escopo. Agora, além dos livros infanto-juvenis (sim, eles continuam), virão as impressões dos títulos adultos, de ficção e não-ficção. Também abrimos espaço para uma seção de listas, das mais variadas: selecionaremos as mais legais, publicadas por aí, em jornais e sites especializados, e as feitas por nós e nossos colaboradores – vale tudo, o recorte é feito do jeito que cada um quiser.

E mais: tudo isso vem em cara nova. O site foi reformulado com o endereço acima, que vale a pena repetir: www.bussoladelivros.com. Agora, seguimos a edição em duas amigas apenas, mas com a participação ilustre de vários outros convidados. Sugestões, críticas e comentários continuarão sendo benvindos!

Contatos: bussoladelivros@gmail.com @bussoladelivros

Publicado por: Heloísa Dall'Antonia | 01/07/2011

Ficção – Noturno, de Guillermo del Toro

‘Noturno’, o primeiro livro da Trilogia da Escuridão, escrita pelo cineasta Guillermo del Toro com Chuck Hogan ganhou um site especial da Rocco.

www.trilogiadaescuridao.com.br

A resenha do livro chega logo mais ao Bússola de Livros.

Publicado por: Thaís Fonseca | 12/03/2011

Monstruário

Livro brinca com a seriedade dos catálogos científicos para descrever a esquisitice de monstros

Com capítulos divididos como se fossem tópicos científicos, “O Monstruário” parte da ideia divertida e original de criar uma espécie de catálogo de monstros que assustam as pessoas mundo afora. Logo no início, introduz a premissa de uma forma simpática: há uma espécie de reportagem assinada pela “enviada especial ao país de Monstragália”, em viagem “a convite do Comitê Internacional das Crianças Alertas Contra os Monstros”, para noticiar a descoberta de 12 tipos de monstros.

Esse texto “jornalístico” inclui a entrevista com o monstrólogo Dr. Maurus Isidoros, responsável pela incrível compilação. É ele que explica o que os leitores podem esperar dos bichos temíveis: “Monstros são formas de medo. (…) Tem monstro que a gente inventa, outros que a tradição sustenta”.

A parte seguinte apresenta as criaturas com suas nomenclaturas científicas, cada uma em um capítulo. Em alguns casos – os que achei os mais interessantes – vêm monstros que aparecem quando não sabemos lidar com alguma situação ou com algum sentimento. Há, por exemplo, o Oitolhus, um monstro com o qual muitos adultos poderiam se identificar: cheio de olhos, a criatura vê as coisas todas distorcidas e não como elas realmente são. Tem também o Breus Profundos, que corresponde ao temível escuro de antes de dormir, e Espelhus Culposus, que nos faz ver uma imagem exageradamente ruim de nós mesmos.

Em outros capítulos, entretanto, alguns dos monstros parecem surgir mais da preocupação de adultos em ensinar as crianças sobre alguns assuntos, conferindo um ar mais educativo que criativo, além de fugir da explicação do Dr. Isidorus. São eles o Xifópagus Alimentícius, que traz uma espécie de alerta ao excesso de “porcarias” doces e salgadas que aparecem na alimentação e fazem mal para a saúde; e o Gaseificadus Venenosus, sobre o mal da poluição na natureza.

De toda a forma, os textos assinados pela premiada Katia Canton – ela já ganhou, entre outros títulos, o Jabuti em 1998 por “Maria Martins” – são cuidadosos e legais de ler. Já as ilustrações em branco e preto, de Guazelli, seguem o ritmo “seriedade acadêmica, mas só de brincadeira”, personificando as descrições escritas como se fossem um retrato falado bem humorado. Como exemplo, há o desenho do Medus Gelados, onde aparece um garotinho pequeno seguido por uma mancha escura, com braços semelhantes ao de um polvo como sombra. Maneira esperta de materializar o monstro que chega sorrateiro com a angústia.

Coisas legais
– A ideia da “reportagem” é bem legal. Apresentar medos em forma de monstros, de forma bem-humorada, também.

Coisas chatas
Alguns tópicos, como o da poluição e dos alimentos que fazem mal, não são tão interessantes quanto os sentimentos e sensações que ganham uma cara. Talvez por parecerem mais uma lição didática.

MONSTRUÁRIO
Autora:
Katia Canton (veja o site oficial da escritora aqui)
Ilustrações: Guazzelli
Editora: Girafinha
64 páginas

Publicado por: Thaís Fonseca | 26/12/2010

Duas Dúzias de Coisinhas À-Toa que Deixam a Gente Feliz

Frases rápidas e poéticas apontam momentos simples e divertidos da vida

O autor deste livro é mais conhecido por sua atividade como designer gráfico e ilustrador, mas o que mais me
chamou a atenção foram as rimas que, por sua vez, dão um toque especial a uma ideia bem simples, mas
muito bem vinda. Com poucas páginas e poucas palavras, Otávio Roth escreveu e ilustrou “coisinhas” fofas capazes de deixá-lo – assim como a muita gente – contente, além de combinarem poeticamente como, por exemplo, “queijo com goibada” e “beijinhos da namorada”, “menina loira com trança e “Dom Quixote e Sancho Pança”, entre outras.

Despretenciosas, as frases conseguem divertir e fazer o leitor se lembrar que sim, há várias coisas legais no cotidiano que podem passar batido. No prefácio, o autor reforça esta ideia ao dedicar o livro para a mãe: “Aprendi, desde menino, a colecionar pequenos momentos de felicidade”. Por fim, a edição é bem rápida de ler – cada frase ocupa uma página – e pode levantar o astral de leitores de várias idades. Os desenhos são legais, mas ficam reservados a uma parte bem pequena da página. Em outras palavras, se fossem menos discretos e ocupassem um lugar maior, a edição ficaria ainda mais atrativa.

Roth, artista paulistano que viveu entre 1952 e 1993, também se dedicou a gravuras, estudos sobre o papel e fez parceria com Ruth Rocha em vários livros infantis, entre eles “A História do Livro”.

Coisas legais

– A ideia é simples mas pertinente e faz efeito para levantar o humor do leitor, especialmente em dias barulhentos e cansativos
– A rimas são simples, mas bem pensadas e divertidas
– Na última página, há um espaço para que o leitor escreva as coisas que o deixam felizes
– O livro foi recomendado na categoria poesia pela FNLIJ em 1994

Coisas chatas
– As ilustrações são muito discretas. Seria legal se ocupassem um lugar maior e mais ousado nas páginas

DUAS DÚZIAS DE COISINHAS À-TOA QUE DEIXAM A GENTE FELIZ
Autor: Otávio Roth
Editora Ática
28 páginas

Publicado por: Thaís Fonseca | 21/12/2010

Cinderela – Uma História de Amor Art Déco

Ilustrações caprichadas e cheias de detalhes dão nova cara ao conto de fadas

Confesso que não me animo muito a ler novas versões de princesas dos contos de fadas, como é o caso deste livro, pelo simples motivo de que é muito fácil cair no já-vi-isto-antes. Mas nesta edição a surpresa foi boa. Nem tanto pelo texto, que conta de forma bem enxuta aquilo que já se sabe sobre a Gata Borralheira – ao menos a da Disney (em linhas gerais: madrasta e irmãs más + fada madrinha + baile do príncipe + fim do feitiço + mais perda de sapato + encontro da dona do sapato = final feliz).

São as ilustrações que fazem toda a diferença. Os desenhos informam que a história é ambientada nos anos 1920, com direito a cortes de cabelos, vestidos e detalhes (muitos detalhes) decorativos da época e formas inspiradas no design da art déco (como já informa o título). A princesa não mora num castelo, mas enfrenta todos os dramas da velha e boa Cinderela após sua mãe morrer e seu pai, tão cego – literalmente – quanto ingênuo, “adotar” uma nova família, bem “bruxa”. Em alguns momentos as ilustrações privilegiam ângulos pouco convencionais para a história (como ao mostrar a princesa num momento triste de cima para baixo, a partir dos varais de roupas) e trazem novidades como, no lugar da carruagem, um carro luxuoso, que leva a mocinha ao baile do príncipe.

Os desenhos são de David Roberts, um ilustrador inglês cuja experiência na profissão tem origem no mundo da moda (não à toa os vestidos das personagens são ótimos). Ele assinou alguns livros infantis, entre eles este, feito em parceria com a irmã Lynn. Ambos assinam ainda a versão “Rapunzel – Um Conto de Fadas Fabuloso”, que se passa nos anos 1970 e deve reunir vários detalhes e referências da época. Ainda não vi, mas em tempos de “Enrolados”, nova animação da Disney que estreia em janeiro (também com inspiração em Rapunzel), e com as surpresas deste livro, arrisco dizer que vale a pena conhecer.

Coisas legais
– Desenhos caprichados e cheios de detalhes. Dá para passar um tempão observando.

Coisas chatas
– A história já é conhecida e, ao menos na escrita, não se destacou como uma versão original (como foi a de Monteiro Lobato para “Peter Pan” de J. M. Barrie, por exemplo)

CINDERELA – UMA HISTÓRIA DE AMOR ART DÉCO
Autora:
Lynn Roberts
Ilustrações: David Roberts
Editora Zastras
36 páginas

Publicado por: Heloísa Dall'Antonia | 07/09/2010

Você é um Homem Mau, Sr. Gum!

Uma pitada de Monty Python para crianças

Se a equipe do grupo de humor Monty Python escrevesse um livro para crianças, o resultado estaria muito próximo do que é ‘Você é um Homem Mau, Sr Gum!’. Com a cidade de Lamonic Bibber como cenário, esta é a primeira história da série que já conta com oito títulos com os mesmos divertidíssimos personagens.

Jake é um cachorro bonachão e simpático que ganha o coração de todos que conhece. Sua maior diversão é brincar nos quintais das casas das pessoas, o que, às vezes, significa destruir todas as flores do lugar. O Sr. Gum, um homem chatíssimo que detesta tudo, por acaso é dono do jardim mais lindo da cidade. Já viu tudo, né? O detalhe é que o Sr. Gum só tem esse cuidado todo com a área porque, se não o tiver, uma fada que mora em sua banheira vem lhe dar frigideiradas na cabeça. E é exatamente isso que ela faz logo na primeira vez em que Jake bagunça tudo. Para evitar novos transtornos, o Sr Gum arma um plano horrível para acabar com o cãozinho. Mas muitas coisas vão acontecer antes que ele consiga colocar em execução essa idéia. Além deles, também estão na trama Sexta-Feira O’Leary (um velhinho que eventualmente grita que “a verdade é um merengue de limão”) e uma menininha com um nome imenso, mas que deixa você chamá-la de Polly se virar amigo dela.

Com tiradas ótimas e absurdamente nonsenses (como o fato de Polly, em determinado momento, encontrar um livro que conta exatamente a história do que está acontecendo naquele momento ou as frases cheias de sabedoria de uma criança chamada Espírito), o livro conquista facilmente crianças e adultos bem-humorados. Diversão garantida.

Coisas legais:
– É impossível não rir com as improváveis situações descritas no livro
– A partir do momento que se conhece Sexta-Feira, é delicioso ser surpreendido pelo que o personagem fará na sequência

Coisas chatas:
– O humor nonsense não é aproveitado por qualquer faixa etária. Antes de comprar o livro é interessante prestar atenção se o pequeno leitor entende que piadas podem ser mais engraçadas quando não são escancaradas

VOCÊ É UM HOMEM MAU, SR. GUM!
Andy Stanton, com ilustrações de David Tazzyman
Galera Record
192 páginas

Publicado por: Thaís Fonseca | 24/08/2010

Peter Pan

Versão em pop-up da história clássica enche os olhos, mas atrapalha a leitura

Ok, consigo entender, de verdade, que há graça em abrir um livro de pop-up. Quando é bem feito e cheio de detalhes, mais ainda. Este é o caso desta adaptação da história de J. M. Barrie. Recontar a história de “Peter Pan’’, um clássico, não é tarefa fácil, mas Robert Sabuda usou sua especialidade para dobrar papéis de diferentes cores e texturas que, calculadamente, deslizam para ganhar formas de navios, cama, sereias, entre outros cenários e personagens da Terra do Nunca.

Está tudo ali: Wendy, Peter, Sininho, peles-vermelhas, Capitão Gancho e etc, numa configuração diferente, capaz de encher os olhos, sobretudo na primeira vez em que se abre. Mas, quando deixa de ser novidade, quando os textos reservados nos cantos das páginas passam a ser o foco, as dobraduras viram um obstáculo para os cotovelos, dedos e, o que é pior, para a atenção. O lugar para as letras é pequeno, em retângulos, e ainda há espaço para sub-dobraduras.

A leitura tradicional da história, fica claro, é mais um acessório à arte de Sabuda. Ainda assim, para quem se aventurar no texto, pode ser bem mais confortável se ater ao livro tradicional (uma dica é a versão de Monteiro Lobato, também bem divertida) e reservar esta edição para curtir o trabalho artesanal dos pop-ups que, ao menos no meu caso (e idade), enjoaram logo.

Coisas legais
– Os pop-ups são realmente delicados e bem feitos. Uma das páginas, em especial, mostra Peter Pan com algumas sereias de caudas cintilantes

Coisas chatas
– O texto fica reservado no canto, em páginas duras de virar e num livro que, com tantos pop ups, fica meio pesado e desconfortável de mexer
-O livro é delicado e demanda certo cuidado

PETER PAN
Adaptação de Robert Sabuda
Tradução de Bruno Salermo Rodrigues
Editora Publifolha

Publicado por: Claudio Prandoni | 16/08/2010

O Livro do Cemitério

Neil Gaiman teve a história para escrever este livro lá nos idos de 1985, com inspiração nas histórias do Mogli no clássico “O Livro da Selva”, mas o resultado se aproxima mais do já clichê bruxinho Potter, de J.K. Rowling. A experiência é praticamente a mesma, só que condensada: passa mais rápido, mas nem por isso o impacto é menor. Ah, e como é de costume de Gaiman, flerta com o macabro e sinistro de forma hábil e quase aconchegante.

No lugar de Harry temos Nobody Owens, que vira órfão ainda bebê quando o misterioro e sombrio Jack mata os pais e irmã dele. O guri então é adotado por fantasmas e o misterioso vampiro Silas e passa a morar em um cemitério. Daí em diante a jornada de Bod se desenrola em capítulos, cada um retratando o menino em uma idade diferente, vivendo e aprendendo coisas diferentes. Não foge do padrão da jornada do herói: enfrenta dificuldades, aprende lições com  mentores, coloca esses poderes em prática, se apaixona, se decepciona e, por fim, vence um grande antagonista. Contudo, cada episódio é muito marcante e construído de maneira admirável, marcante, tornando um prazer acompanhar o crescimento de Bod.

Dentre todos os oito capítulos, acho o quinto (Danse Macabre, no original em inglês) o mais marcante. Apesar das semelhanças com Harry Potter e outras tantas histórias do gênero, Danse Macabre concretiza melhor a personalidade única de Bod e sua própria trajetória. Ainda que breve, o episódio narra de forma bonita e lúdica a relação entre seres humanos e a morte (personificada aqui como uma bela moça montada em um cavalo branco). Pena que nem toda a narrativa seja tão brilhante como neste ponto: geralmente, os começos de capítulo são um bocado enrolados e demoram demais a armar a trama. Mas é percalço menor e não tira a emoção da história de Bod.

Coisas legais
– Apesar de parecer uma história genérica de órfão que lida com poderes sobrenaturais, “O Livro do Cemitério” consegue ter estilo próprio graças à criatividade de Gaiman e a habilidade que tem de criar elementos macabros e igualmente fascinantes
– O capítulo 5 é realmente muito bom
– Apesar de ser apenas um único volume, o livro consegue passar fortes emoções

Coisas chatas
– Às vezes a história enrola demais para engrenar
– A maneira como o livro acaba dá vontade de que Gaiman escreva mais aventuras para Bod… mas parece que isso não vai acontecer tão cedo

O LIVRO DO CEMITÉRIO
Neil Gaiman
Páginas: 336

Publicado por: Thaís Fonseca | 02/08/2010

Nicolau Tinha uma Ideia

Troca de ideias de Nicolau é refresco com gosto de utopia

Na maior parte das páginas deste livro há apenas uma frase, muitas delas completadas por balõezinhos com desenhos. A linguagem, à primeira vista, pode parecer específica para crianças pequenas, bem pequenas. Mas, acredite, há grandes chances de que a história se mostre mais profunda do que uma batida de olhos aparenta.

O principal motivo é a figura de Nicolau que, como nos mostra as ilustrações, vive no tempo da pedra. Ele e os outros personagens se vestem de peles e têm poucas ferramentas no cotidiano. Cada um tem apenas uma ideia na cabeça, até que Nicolau sugere uma revolução: ao trocá-las, elas se multiplicam e se inicia uma gama de novas ideias. A conseqüência é imediata: a vida das pessoas melhora e elas convivem e criam novas ferramentas mais complexas para comer, morar, se expressar e etc.

A ideia de Nicolau sugere, portanto, algo bem simples e civilizado, ou seja, a importância coletiva da troca, da conversa com os outros, de aprendizado mútuo. Ok, isso parece muito simples. Podemos até dizer que na escola já existe esta configuração, afinal sentamos para ouvir outra pessoa, mais sábia e experiente falar – como Nicolau, em certa altura do livro, faz ao expor sua sabedoria para crianças.

Mas algo me fez achar a criatividade do personagem ingênua – no sentido positivo – em comparação com a exposição competitiva de ideias que se vê por aí, incluindo as escolas, nas empresas, nas mesas dos bares e etc. Se Nicolau tivesse feito um concurso para ver quem teria a melhor ideia ou começasse uma corrida para que cada um executasse sua “ideia genial” sozinho, talvez estivesse mais próximo do que vejo como realidade e não tivesse interessado tanto. Entretanto, a sugestão de ideias bem intencionada me pareceu um oásis, como um refresco que desceu com gostinho de utopia. Por trás da criatividade de Nicolau está a de Ruth Rocha, autora deste livro que parece simples e fácil para crianças, mas serve também como leitura rápida e inteligente aos adultos.

Coisas legais
– As ilustrações mostram personagens bem simpáticos

Coisas chatas
– Nada, o livro é muito legal

NICOLAU TINHA UMA IDEIA
Autora:
Ruth Rocha
Ilustradora: Mariana Massarani
Editora Quinteto Editorial
34 páginas

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